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Mostrando postagens de fevereiro, 2014

QUEM NÃO ODEIA A LITERATURA NÃO AMA ENSINAR

Fiquei surpresa por não ter recebido nenhum comentário provocatório quando escrevi no início do mês que a literatura é um amor superior (http://palavrasdebulhadas.blogspot.it/2014/02/a-angustia-da-filiacao.html). Todo mundo quietinho, ninguém para levantar polêmica e dizer: afinal, não era você que destratava o beletrismo? Que história é essa agora de "amor superior"? Pois é. A literatura é um amor superior, é aquele mistério que nunca se revela completamente, que alimenta a curiosidade pela vida afora. Mas a língua, como sempre repito, foi o meu primeiro amor, amor pleno, amor cheio de cumplicidade, amor (quase) sem segredos, amor familiar, amor que de tão visto nos cega, está ali o tempo todo como abajur em precioso silêncio, acompanhando as noites sem sono. Tudo isso é verdade para mim. E justamente nisso está o grande perigo. Vou explicar, porque já aconteceu um monte de vezes comigo. Você está louca para falar de um livro maravilhoso com um amigo e ele diz: "ah, Gi

A GUERRA SANTA DA LETRA CURSIVA

Em Hamburgo, na Alemanha, já é assim: é obrigatório alfabetizar usando letra de forma. Motivo: é o tipo de escrita mais comum no cotidiano das crianças (e dos adultos também), que vivem rodeadas de jornais, placas, avisos, livros escritos em letra de imprensa. Não é mais preciso aprender duas grafias diferentes, explicam as autoridades, mas quem quiser pode escolher o exercício de caligrafia como disciplina opcional. A Finlândia, segundo fontes jornalísticas, também está pensando em seguir o mesmo caminho. As atividades de motricidade fina poderiam ser transferidas para as artes visuais. No Brasil, a professora Magda Soares (professora emérita da Faculdade de Educação da UFMG) explica os motivos dessa preferência: na fase em que a criança está descobrindo a relação entre letras e fonemas, a letra de forma permite uma melhor distinção gráfica e é mais simples de escrever nessa etapa de treino das habilidades motórias. Alguns vão além, dizendo que o tempo "perdido" para &quo

A ANGÚSTIA DA FILIAÇÃO

Primeiro texto do mês e eu aqui às voltas com a literatura: Quando ingressei no curso de Letras, depois de alguns meses, recebi duas oportunidades: participar do projeto de descrição da língua portuguesa ou ser monitor do curso de teoria literária. Expliquei, muito agradecida, à professora de língua portuguesa que adorava a língua, mas o meu problema era entender a literatura. Na época, havia essa dicotomia, entre os que idolatravam a linguística e colocavam a literatura num patamar inferior, dedicado às belles-lettres, e os que acreditavam no sistema literário. Não faltavam professores de literatura que com arrogância machista diziam que as moças de boa família inscreviam-se no curso para complementar os cursos de bordado e piano. E as professoras que nos diziam que os alunos de literatura trabalhavam só para pagar "os seus alfinetes". Tudo isso era Letras, mas não era o meu caso, que tinha feito a matrícula para entender como funciona essa tal literatura. Para espanto do