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NÃO INVENTAMOS O CARNAVAL, INVENTAMOS O ENTERRO-DOS-OSSOS

O carnaval é uma festividade pagã, que se popularizou e "industrializou-se" no Brasil, a ponto de ser considerado o "maior espetáculo da Terra". É uma festa muito importante, mas também contém muitos daqueles elementos sob medida para agradar o público, para "inglês ver", como se diz.
Dizem que o nosso carnaval vem do entrudo português, e não tenho motivos para duvidar disso. De fato, ainda há em pequenas cidades resquícios daquela antiga festa, durante a qual as pessoas se sujam de todos os modos por pura diversão. É o caso do carnaval de lama, só para lembrar que o período do verão é bastante chuvoso em zonas tropicais e que brincar em poça d'água é uma diversão previsível nesse contexto.
Há também outras manifestações ótimas, que foram até objeto de estudo antropológico, como o carnaval de rua, que em relação ao carnaval de salão é outra história! O carnaval de rua é a coroação da vida de bairro, da organização espontânea da bagunça! O carnaval de salão é símbolo de status, assinala a tribo, define fronteiras entre os que estão dentro e os que ficam de fora.
Mas nada disso é novo, porque nós importamos o carnaval.
Peculiar mesmo é o enterro-dos-ossos.
Enterro-dos-ossos é uma expressão que se usa para indicar um prato feito com os restos do dia anterior ou simplesmente a refeição preparada com as sobras. É um clássico no almoço de Natal, porque depois da noite de festa e de um peru enorme que dificilmente é devorado por inteiro em uma única refeição, o almoço de Natal é a festa da salada de peru, da farofa de peru, do risoto de peru, do patê de peru, do pastel de peru e de tudo o que pode ser feito com as sobras do pobre peru.
O enterro-dos-ossos também é a festa feita com as "sobras" do carnaval. Como se sabe, o carnaval pode ser festejado até a terça-feira que antecede a Quarta-feira de Cinzas, quando os católicos relembram que voltarão a pó e são convidados ao arrependimento, a fazer uma mudança de vida e a fazer penitência para reparar os erros cometidos. Em alguns países o início da Quaresma é muito respeitado e já li que festas feitas fora do calendário do carnaval foram "excomungadas" pelos vigários. Não sei como anda a situação no Brasil, mas acho que entre nós sempre houve maior indulgência para com a simplicidade do povo, que muitas vezes festeja apesar da miséria, apesar das injustiças e não o faz como uma provocação à religião.
Fato é que o dicionário Aurélio associa a festa do enterro-dos-ossos à cidade de Corumbá, onde teria tido início a tradição. Cito: "Antiga brincadeira de Corumbá, no primeiro domingo após o carnaval: grupos de foliões, com roupas de luto, saíam à rua executando marchas fúnebres e conduzindo caixões mortuários, que na realidade estavam repletos de comidas e bebidas, consumidas, entre risos e galhofa, em determinados pontos da cidade".
As questões de língua a esse respeito poderiam ser muitas, mas deixo uma aos leitores: como seria a tradução de "enterro-dos-ossos" em outros idiomas?

Comentários

  1. Muito boa materia. parabens. paulogigante..

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  2. Entendo eu, que devido ao tempo que se passa da colonização, podemos considerar que o Carnaval a que nos referimos atualmente foi sim inventado pelo povo brasileiro. É natural que toda criação seja oriunda de uma ou mais idéias ou conceitos já existentes. Isso é científico. Nesse caso, o entrudo foi uma das raizes, muito bem pontuado e apresentado pelo autor, embora não ter conseguido encontrar a autoria nesta página. A festa que antes era portuguesa, ganhou o charme e o brilhos das plumas e paetês, tudo muito bem escuturado no corpo esbelto da mulher brasileira. Ganhou música e foi ao mundo. O entrudo tanto foi degrau, que não deixou de existir e ser comemorado, tal qual o macaco e o homem. Parabéns ao autor.

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  3. Não duvido desta hipótese, o brasileiro tem ideias mirabolantes, criativas e repleta de metáforas.

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  4. ENTERRO DOS OSSOS,,É UMA ESPÉCIE DE SAIDEIRA DO CARNAVAL. UMA FESTA NO PRIMEIRO FIM DE SEMANA , APÓS A QUARTA FEIRA DE CINZAS.

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