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Mostrando postagens de setembro, 2012

SINTAXE, PARA QUE TE QUERO

Nessa luta da ortografia nova contra a ortografia velha, um aspecto permanece estável e sempre confiável para dar ao discurso o tom que desejamos: a sintaxe. A estrutura sintática do português é muito rica, por isso, ficar somente nas fórmulas conhecidas dá a impressão de preguiça ou pouco conhecimento. Em primeiro lugar, é preciso considerar a estrutura adequada para o objetivo que queremos atingir: não basta escolher o léxico, a estrutura da frase deve acompanhar, quer dizer, conta a forma e o conteúdo. Por exemplo, para informar, podemos escolher a forma passiva ou ativa. Escolhemos a passiva quando não importa o agente ou quando não convém dar peso ao agente; pelo contrário, a forma ativa evidencia quem pratica a ação. Notícias frescas: "O corpo de Autran Dourado foi velado no Rio de Janeiro"; "A Academia Brasileira de Letras concedeu a Autran Dourado, em 2008, o prêmio Machado de Assis" - dá para perceber a diferença? Também é possível optar por uma forma

FORMA CONTRA NATUREZA

Por que o português tem tantas regras? É a pergunta que ouço frequentemente dos meus alunos. Resposta: porque é uma língua muito formalizada. E por que tem tantas exceções? É a segunda pergunta que mais ouço. Resposta: porque é uma língua imersa na história. A presença de regras e de exceções às regras é algo típico da nossa língua. Porém, há mais a ser dito: o português é uma língua estruturada para pessoas insipientes/incipientes. Quer dizer, possui regras de morfologia e ortografia estruturadas para pessoas com pouca cultura, por isso acessível também aos principiantes.  É justamente o alto grau de formalização da gramática que determina a luta com a natureza da língua. De um lado, os instrumentos gramaticais orientam e controlam a escrita; de outro, a evolução natural da língua (intimamente ligada às histórias pessoais, aos eventos históricos e aos fenômenos sociais) viola as regras que tentam conter os processos de transformação. Isso, porém, é inevitável, pois a história hum

VIDAS EM PORTUGUÊS

Ainda sob o impacto dos últimos encontros que a vida concedeu-me, recordo o filme "Língua: vidas em português" e deixo uma lista de palavras que se traduzem em nomes profundamente relevantes para a minha relação com o mundo e com as pessoas: é um pequeno glossário afetivo. casa, mãe, irmão, tios, amigos, livros, ruas, árvores, pássaros, água, sol, rio, viadutos, fome, coração, mãos, olhos, sono, sorriso, telefone, quindim, cavalo, cachorro, gatos, galinhas, ovelhas, riachos, palmeiras, filas, povo, centro, mercado, chuva, ônibus, praças, lombas, parques, museu, histórias, fotografias, música, café, pastel, relógio, chimarrão, ausências, tempo, transformação, primos, festa, afilhada. Dá para viver sem tudo isso quando se conhece a saudade. Mas não dá para esquecer. E não se esquece. Por isso a gente retorna. Obrigada, gente, pela generosidade de afeto.