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Mostrando postagens de julho, 2012

SE É LITERATURA, TEM QUE INCOMODAR

Os melhores livros da minha vida não foram fáceis de engolir. Eu sempre digo para meus alunos que devo ter começado pelo menos umas dez vezes a leitura de Grande Sertão: Veredas antes de conseguir entender o que estava acontecendo naquela história. Quando o texto me pegou, não me largou mais. É uma sensação que experimentei várias vezes: lendo tragédias, lendo romances, lendo contos, lendo poemas e até lendo as melhores comédias. Lendo textos velhos e novos. Essa coisa que me agarra a um livro é a terrível sensação de que se eu fechasse as suas páginas, aquilo poderia acontecer comigo, como se fosse uma maldição. Então, com os olhos esbugalhados vou adiante para descobrir até onde vai a personagem, que fim irá levar, no meu lugar. Ponto final: e aquela sensação de ter ficado a salvo mais uma vez. Refiro-me à catarse. Só a catarse nos une, os livros a mim. A catarse, como estou descrevendo aqui, é um conceito bastante eclético, diria um Aristóteles. Contudo, creio que ele

POLITICAMENTE CORRETO - ENTRE A IGNORÂNCIA E A DISCRIMINAÇÃO

Politicamente incorreto? Depende da situação. Esta reflexão nasce da leitura de um artigo publicado em um jornal italiano esta manhã. Fiquei indignada com o uso da palavra "suk" (referência a "suq", mercado em árabe e, aliás, raiz da nossa palavra "açougue" ou "casa de carnes"). No texto, a jornalista referia-se a "Suk Termini" para descrever o estado de degradação da região próxima à estação central de Roma. Um fato imperdoável, que alimenta a discriminação em relação à cultura árabe e que certamente não precisa da mãozinha de uma jornalista para acentuar-se em tempos de xenofobia. Perdoaria, se se tratasse de ignorância. Mas jornalistas não podem escorregar no a-b-c da etiqueta da língua. A questão é delicada e no Brasil tem ocorrido um verdadeiro patrulhamento em relação a isso. Jornais, livros, a escola, os movimentos sociais e até o governo promovem a discussão dos termos que devem ser evitados para que ninguém se sinta ofen

NOMES - TEORIA E PRÁTICA

Muita gente já se fez esta pergunta sobre a língua: uso porque sei ou sei porque uso? Porém, existe um outro montão de gente que nem sonha em levantar essa questão. Nada há de mais ilusório do que colocar o problema na gaveta e deixar o barco correr. Há muita gente que usa a língua sem ter consciência, sem saber profundamente o que está usando. Acomoda-se ao seu próprio repertório, encontra frequentemente dificuldade diante de um falante que utiliza uma linguagem diferente da sua e acha que estudar a língua é aprender regras para alcançar um bom resultado escolar. Por outro lado, há quem pense que não poderá usar a língua enquanto não souber as suas regras. Passa anos estudando a gramática e tem pouco sucesso no uso prático. É um fato comum entre falantes estrangeiros. Vou comentar um exemplo prático, que pode servir para ambos os casos. Refere-se ao uso dos substantivos. O que aprendemos na escola? Que os substantivos são divididos em próprios ou comuns, concretos ou abstrato