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Mostrando postagens de 2012

AS PIORES PERGUNTAS SOBRE A LÍNGUA

Andei lendo algumas provas vestibulares para verificar se encontrava aquelas perguntas bobinhas, do tipo: qual é a correta separação silábica da palavra "arguir" (perguntinha malandra em tempos de novo acordo ortográfico). Procurei, mas não encontrei nenhuma pergunta desse tipo. Aleluia! Já estava com o sermão pronto... tive que engolir seco o meu preconceito. Mas uma olhada geral não me deixou totalmente otimista: é verdade, deixamos de lado aquelas perguntas que ajudam apenas os estudantes com maior capacidade de memorização, mas no lugar dessa abordagem vejo uma multiplicidade de abordagens, questões às vezes muito complexas, realmente seletivas.  Também notei diferenças entre as várias universidades, começando pelo nome da prova: há quem chame de língua portuguesa, quem chame de linguagem, quem chame de linguagens e outros códigos! Um estudante do Norte que vem fazer a prova no Sudeste, um que venha do Centro-Oeste fazer prova no Nordeste, estará preparado? Encontrei u

LÍNGUA PURA! LÍNGUA PURA!

Quando falo de Machado de Assis, falo de língua, de um magistral exemplo de língua. Quando falo de Montaigne, falo de língua, falo de como a língua dá forma aos pensamentos e de como os pensamentos estruturam e limitam as possibilidades da língua. Quando falo dos meus escritores preferidos não sei se fica claro que estou falando dessa matéria-prima essencial: a língua. Se isso não fica muito claro, peço desculpas e prometo voltar ao assunto. Hoje, porém, queria falar dos problemas cotidianos, das pedras no nosso caminho de falantes e autores de memorandos, relatórios, cartas, emails, currículos. Não que Machado não possa ser melhor professor, mas nos acostumamos rápido com as estratégicas lúdicas da didática (a nós, professores, o mea culpa) e esquecemos de mostrar a beleza de língua que a literatura tem para compartilhar com outras formas de discurso. Enfim, vou deixar o Machado em paz e falar do prosaico, como se o prosaico fosse uma categoria distinta (é e não é, mas fiquemos só c

A MAGIA DE XERAZADE

Por que "As mil e uma noites" continua encantando? Há muitas respostas para explicar o fenômeno e há dezenas de autores que se debruçaram sobre o tema. Continua encantando porque é um clássico, porque é universal. Então é preciso entender o que é um clássico, o que significa ser um texto universal. Resumindo em palavras muito simples, digamos simplórias por sua extrema síntese: "As mil e uma noites" continua encantando porque possui aqueles elementos que magnetizam a atenção do leitor e que continuam a magnetizar geração após geração. O clássico está além das escolas, dos períodos históricos e... além da idade. Estou relendo com meu filho "As mil e uma noites", em versão traduzida, mas não adaptada para a infância. Estou comprovando na prática o que já teorizo há muito tempo (sobre a leitura): que não há texto certo para uma faixa etária, mas que há faixas etárias para o bom texto. Um bom texto pode ser apreciado em maior ou menor grau por diferentes cat

COMO VAI, SENHOR MONTAIGNE?

Caro Montaigne, os canibais usam calças há muito tempo. Aprenderam a língua do homem branco e no próximo ano poderão festejar os vinte e cinco anos de status de cidadão com plenos direitos. Sim, hoje os canibais podem exercer plenamente, usando a língua do homem branco, o direito de reclamar suas terras usurpadas. Hoje eles são livres para dizer que querem continuar vivendo onde sempre viveram. Hoje eles vivem em uma democracia. Hoje eles são minoria e, visto que vivem em uma democracia, há muito mais gente (que não conhece a sua língua e muito menos os seus costumes)  que acha que deslocar uns poucos canibais de sua casa é só uma questão de mudança de endereço. Afinal, caro Montaigne, esses milhões de pessoas que pesam na balança da democracia jamais seriam deslocados de suas casas, porque mudar o endereço de tanta gente seria numericamente mais complicado e oneroso do que mudar o domicílio da minoria. Os canibais continuam vivendo em uma situação de relativa pobreza, mas são livres;

A REPÚBLICA E A ARTE DE SER COPISTA

Viva a República! Viva a "res publica", viva a coisa pública! Palmas para os que honram a república. Pensemos nessa jovem senhora República brasileira e em um dos seus melhores e mais atuais cronistas: o grande Machado de Assis. Imitar a arte dos grandes é já um grande trabalho. Machado, grande leitor e conhecedor de outras culturas, soube aproveitar as lições do passado sem fazer manifestos e alardes como os modernistas, mas o tempo confirma para mim que ele é o mais límpido, mais moderno e contemporâneo dos nossos grandes autores. Soube reler os clássicos e os seus contemporâneos com o filtro da ironia e com a inteligência de quem sabe reconhecer a atualidade do passado. Foi até certo ponto grande copista, na melhor tradição de conservação dos tesouros da cultura, e um inovador elegante e genial. Aprender português com Machado é um privilégio acessível a todos. Cito uma passagem de Esaú e Jacó , uma de suas obras que está entre as minhas favoritas, para compartilhar co

QUEM É QUEM NA LÍNGUA

Que pessoas não são números todo mundo sabe, embora a crescente digitalização de nossas vidas esteja codificando quase todos os setores de nossa experiência pessoal. Mas que a personalidade seja um fator fundamental na economia poucos estão explorando ainda. Os economistas George Akerlof e Rachel Kranton investiram no estudo do tema e os resultados podem ser vistos no seu livro: "A Economia da Identidade", traduzido em várias línguas, além do português. O que isso tem a ver com a língua? Em primeiro lugar, a língua e o estilo pessoal de cada um são uma marca que caracteriza a nossa comunicação com os outros e influenciam a percepção que os outros têm de nós. Além disso, a própria língua está sujeita a personalidades fortes, que marcam momentos da história introduzindo novas expressões, revigorando velhas expressões ou gerando termos ligados ao nome próprio. No Brasil, por exemplo, as novelas exercem (muitas vezes no mau sentido) o papel de vetor de novas expressões idio

VOCÊ É MAFIOSO?

Oh... que pergunta horrível! Uma cara amiga minha diria: "você faz uma pergunta dessas sem nem me dar o tempo de retocar o batom?". E além do mais, o que os mafiosos têm a ver com a língua? Tudo. Mas em vez de dar o conceito pronto e mastigado, proponho um teste interativo, em que o leitor poderá descobrir através do método maiêutico se é mafioso ou não. 1) Um amigo seu revela que para ter acesso ao financiamento da casa destinado a pessoas com uma determinada faixa de renda, decidiu ocultar parte dos rendimentos na declaração de impostos. Você pensa: (a) não é problema meu (b) fez bem, no seu lugar eu faria o mesmo (c) apesar de ser seu amigo, não posso deixar de dizer que reprovo a sua atitude (d) outra resposta. Qual?........................... 2) Uma empresa está selecionando candidatos e quer saber se você conhece alguém com o perfil desejado. Você conhece uma pessoa com os requisitos, mas é uma pessoa antipática. O que você faz? (a) diz que não conhece ninguém

LEITURAS

É um vazio que preenche. É um silêncio que ensurdece. Parece uma pausa, mas é tempo cheio. É bagagem. É necessário. Ler é fundamental. O que estou lendo enquanto leio? Leio o estilo, saboreio a escolha das palavras. Detenho-me na dimensão da frase. Por que parágrafos longos intercalados por parágrafos curtos? Percorro as linhas e às vezes tranco a respiração. Suspense. Às vezes fico com raiva. Às vezes rio. Às vezes volto para ter certeza de que estou entendendo bem. E às vezes retorno pelo prazer de ler novamente. Depois de muito ter lido, achei que a leitura tivesse sido a minha melhor gramática. E foi, no início. A gramática normativa percorreu com facilidade meus neurônios e a minha boa disposição para apreender as lições, porque já tinha lido, e muito. Já tinha a língua nas veias, faltava a consciência. Depois da gramática - e ainda hoje, com a gramática -, a leitura tornou-se a bússola que indica os caminhos da língua. Quando não estou escrevendo aqui no blog é porque estou

PLAYING LANGUAGES - PORTUGUÊS

Segue o convite para o curso trimestral que Debora Petrocelli e eu organizamos em Roma.

SINTAXE, PARA QUE TE QUERO

Nessa luta da ortografia nova contra a ortografia velha, um aspecto permanece estável e sempre confiável para dar ao discurso o tom que desejamos: a sintaxe. A estrutura sintática do português é muito rica, por isso, ficar somente nas fórmulas conhecidas dá a impressão de preguiça ou pouco conhecimento. Em primeiro lugar, é preciso considerar a estrutura adequada para o objetivo que queremos atingir: não basta escolher o léxico, a estrutura da frase deve acompanhar, quer dizer, conta a forma e o conteúdo. Por exemplo, para informar, podemos escolher a forma passiva ou ativa. Escolhemos a passiva quando não importa o agente ou quando não convém dar peso ao agente; pelo contrário, a forma ativa evidencia quem pratica a ação. Notícias frescas: "O corpo de Autran Dourado foi velado no Rio de Janeiro"; "A Academia Brasileira de Letras concedeu a Autran Dourado, em 2008, o prêmio Machado de Assis" - dá para perceber a diferença? Também é possível optar por uma forma

FORMA CONTRA NATUREZA

Por que o português tem tantas regras? É a pergunta que ouço frequentemente dos meus alunos. Resposta: porque é uma língua muito formalizada. E por que tem tantas exceções? É a segunda pergunta que mais ouço. Resposta: porque é uma língua imersa na história. A presença de regras e de exceções às regras é algo típico da nossa língua. Porém, há mais a ser dito: o português é uma língua estruturada para pessoas insipientes/incipientes. Quer dizer, possui regras de morfologia e ortografia estruturadas para pessoas com pouca cultura, por isso acessível também aos principiantes.  É justamente o alto grau de formalização da gramática que determina a luta com a natureza da língua. De um lado, os instrumentos gramaticais orientam e controlam a escrita; de outro, a evolução natural da língua (intimamente ligada às histórias pessoais, aos eventos históricos e aos fenômenos sociais) viola as regras que tentam conter os processos de transformação. Isso, porém, é inevitável, pois a história hum

VIDAS EM PORTUGUÊS

Ainda sob o impacto dos últimos encontros que a vida concedeu-me, recordo o filme "Língua: vidas em português" e deixo uma lista de palavras que se traduzem em nomes profundamente relevantes para a minha relação com o mundo e com as pessoas: é um pequeno glossário afetivo. casa, mãe, irmão, tios, amigos, livros, ruas, árvores, pássaros, água, sol, rio, viadutos, fome, coração, mãos, olhos, sono, sorriso, telefone, quindim, cavalo, cachorro, gatos, galinhas, ovelhas, riachos, palmeiras, filas, povo, centro, mercado, chuva, ônibus, praças, lombas, parques, museu, histórias, fotografias, música, café, pastel, relógio, chimarrão, ausências, tempo, transformação, primos, festa, afilhada. Dá para viver sem tudo isso quando se conhece a saudade. Mas não dá para esquecer. E não se esquece. Por isso a gente retorna. Obrigada, gente, pela generosidade de afeto.

UMA VULGAR ELOQUÊNCIA

A interpretação é a maior tentação para a ciência. Ela está aí, e vamos fazendo ciência sem poder prescindir dos riscos a que nos expõe. Às vezes é difícil distinguir a causa e o efeito, o vetor e a característica do fenômeno. A grande polêmica, que aflora cotidianamente, sobre o Acordo Ortográfico, é só um exemplo da guerra intestina que se trava nas áreas que envolvem a língua. Questão de opinião? Questão de vaidade intelectual? Não, questão fundamental, porque a língua é veículo de comunicação ou de desentendimento entre os homens. Mas na área da língua portuguesa, tornou-se também terreno de luta pela defesa da tradição ou do avanço, luta por prestígio geográfico, luta comercial. O Acordo Ortográfico virou uma espécie de bode expiatório para toda sorte de desavença. Para início de conversa, preciso esclarecer aos leitores de que lado estou: após um breve período de ceticismo, aprovei o espírito do Acordo. Falar a partir dessa posição muda tudo e é claro que receberei muitas crít

A LÍNGUA E O ESPÍRITO OLÍMPICO

Lealdade, união, confraternização, encontro. Os jogos olímpicos exaltam a paz e o lado positivo da competitividade. E a língua? Como se sabe, a língua pode ser um poderoso instrumento de controle. Nem sempre é veículo de democratização. Mas as olimpíadas da língua portugesa existem para a ajudar a difundir a sua importância. O que pode ser feito? Incentivar a leitura de forma sistemática e interdisciplinar, porque não se lê apenas nas aulas de português e não se lê somente literatura. Além disso, incentivar a escrita nas suas várias modalidades: técnica, criativa, divulgativa, persuasiva, poética etc. É hora de ler nas aulas de ciências, de biologia, de física e de estudar melhor os registros linguísticos desses setores. É hora de nós, professores de língua, acolhermos o desafio de falarmos sobre os mais diversos assuntos, darmos os passos necessários para uma interdisciplinaridade de fato.  É preciso que este espírito prevaleça para que a língua seja cada vez mais um vetor relevant

SALVE O DIA DO MAU HUMOR

Procurando, é possível encontrar motivo para festejar tudo, até o mau humor. No Brasil, a festa é dia 13 de novembro, mas desconfio que seja uma brincadeira para ironizar o Dia Internacional da Gentileza, promovido por um comitê internacional e festejado desde 1996. Por que a premissa? Porque mau humor não tem dia. Esbarra no nosso cotidiano, atrapalha a vida da gente e atrapalha a comunicação. Muitos problemas entre os falantes estão ali, naquela presença ou ausência de boa vontade em ouvir ativamente o que o outro fala e em fazer um esforço para exprimir-se com clareza. Mas já que resolvi tirar fora a minha porçãozinha de mau humor, deixo algumas pérolas com comentários para o deleite dos perfeccionistas de plantão. São pequenos vícios que ferem os ouvidos, especialmente quando emergem de um falante competente. Como sempre, é preciso fazer ressalvas: todo mundo erra, é humano. O problema é quando profissionais da área persistem no erro. "Atiradores atacam templo n

SE É LITERATURA, TEM QUE INCOMODAR

Os melhores livros da minha vida não foram fáceis de engolir. Eu sempre digo para meus alunos que devo ter começado pelo menos umas dez vezes a leitura de Grande Sertão: Veredas antes de conseguir entender o que estava acontecendo naquela história. Quando o texto me pegou, não me largou mais. É uma sensação que experimentei várias vezes: lendo tragédias, lendo romances, lendo contos, lendo poemas e até lendo as melhores comédias. Lendo textos velhos e novos. Essa coisa que me agarra a um livro é a terrível sensação de que se eu fechasse as suas páginas, aquilo poderia acontecer comigo, como se fosse uma maldição. Então, com os olhos esbugalhados vou adiante para descobrir até onde vai a personagem, que fim irá levar, no meu lugar. Ponto final: e aquela sensação de ter ficado a salvo mais uma vez. Refiro-me à catarse. Só a catarse nos une, os livros a mim. A catarse, como estou descrevendo aqui, é um conceito bastante eclético, diria um Aristóteles. Contudo, creio que ele

POLITICAMENTE CORRETO - ENTRE A IGNORÂNCIA E A DISCRIMINAÇÃO

Politicamente incorreto? Depende da situação. Esta reflexão nasce da leitura de um artigo publicado em um jornal italiano esta manhã. Fiquei indignada com o uso da palavra "suk" (referência a "suq", mercado em árabe e, aliás, raiz da nossa palavra "açougue" ou "casa de carnes"). No texto, a jornalista referia-se a "Suk Termini" para descrever o estado de degradação da região próxima à estação central de Roma. Um fato imperdoável, que alimenta a discriminação em relação à cultura árabe e que certamente não precisa da mãozinha de uma jornalista para acentuar-se em tempos de xenofobia. Perdoaria, se se tratasse de ignorância. Mas jornalistas não podem escorregar no a-b-c da etiqueta da língua. A questão é delicada e no Brasil tem ocorrido um verdadeiro patrulhamento em relação a isso. Jornais, livros, a escola, os movimentos sociais e até o governo promovem a discussão dos termos que devem ser evitados para que ninguém se sinta ofen

NOMES - TEORIA E PRÁTICA

Muita gente já se fez esta pergunta sobre a língua: uso porque sei ou sei porque uso? Porém, existe um outro montão de gente que nem sonha em levantar essa questão. Nada há de mais ilusório do que colocar o problema na gaveta e deixar o barco correr. Há muita gente que usa a língua sem ter consciência, sem saber profundamente o que está usando. Acomoda-se ao seu próprio repertório, encontra frequentemente dificuldade diante de um falante que utiliza uma linguagem diferente da sua e acha que estudar a língua é aprender regras para alcançar um bom resultado escolar. Por outro lado, há quem pense que não poderá usar a língua enquanto não souber as suas regras. Passa anos estudando a gramática e tem pouco sucesso no uso prático. É um fato comum entre falantes estrangeiros. Vou comentar um exemplo prático, que pode servir para ambos os casos. Refere-se ao uso dos substantivos. O que aprendemos na escola? Que os substantivos são divididos em próprios ou comuns, concretos ou abstrato

ACHADOS E PERDIDOS EM PORTUGAL

CLICK, CLICK, 2012. Graças à rede, que não pode ser informática se não for humana, recebi uma atenciosa e preciosa contribuição sobre o uso dos termos listados por Francisco José Freire, que apresentei no texto anterior. Várias pessoas repassaram o pedido de informação sobre o uso dos termos em Portugal e sou grata pela disponibilidade, pela rapidez com que comentaram a lista de palavras e pelo cuidado em fazer o material chegar direitinho ao meu endereço. Um exemplo virtuoso de corrente. Espero que os leitores possam tirar proveito. Para mim os resultados foram muito interessantes. Reproduzo integralmente os comentários que me chegaram, só não cito o autor agora porque ainda não pedi sua autorização para fazer isso. Mas prometo agradecer devidamente assim que puder entrar em contato com todos os que participaram da coleta dos dados. " Há palavras que os brasileiros utilizam e que por cá são considerados arcaísmos. No entanto, na lista que me envias constam alguns termos

ACHADOS E PERDIDOS

Lisboa, 1842. Francisco José Freire publica o livro "Reflexões sobre a Lingua Portugueza" (língua sem acento) em que lista palavras que estão desaparecendo do idioma de Camões. Passados 160 anos ( errata : 170 anos! - ainda bem que sou professora de português, não de matemática), descobrimos com surpresa que muitas palavras assinaladas por Freire continuam sendo usadas. Não sei se as palavras que selecionei possuem muita difusão em Portugal, mas algumas certamente são bastante usadas no Brasil. É interessante que o autor ao comentar as palavras indique também as fontes antigas, em que o leitor poderá encontrar tais termos e talvez ter dificuldade de entendimento. Sintetizo as observações do autor, com algum comentário curioso para o falante de hoje. - Acatar : significava honrar com respeito. Hoje é entendido como obedecer. - Alardo : referia-se a grupo de soldados, em sentido figurado indicava ostentação. Hoje a palavra que usamos é "alarde", e o sentido

ANJOS E DEMÔNIOS

Não é o título de um livro de sucesso. É uma questão impregnada na cultura, independentemente do credo ou do ateísmo do falante. Basta lembrar que as duas mais importantes festas populares da cultura brasileira - carnaval e festas juninas - estão ligadas a ritos religiosos. A primeira antecede e é determinada pelo calendário da Quaresma, enquanto as festas juninas comemoram os santos de junho - de Santo Antônio a São Pedro, passando pelo ponto máximo, São João, quando não pode faltar a grande fogueira. Em português há muitas expressões idiomáticas que mencionam santos e outros seres celestiais. Em contrapartida, há também muitos ditos que aludem ao mal, geralmente evitando citar explicitamente o diabo, para afastar o mal evocado. Trata-se de manifestações espontâneas, que povoam a alma simples do nosso povo, incapaz de ver em tais expressões desrespeito às religiões em sua institucionalidade. Costumo dizer a meus alunos que não se pode falar fluentemente o português sem agregar