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Mostrando postagens de abril, 2011

ABRAM ALAS AO PAI DOS BURROS

Digo com certa vaidade: leio dicionário todo santo dia. Mas haverá quem leia isso sem surpresa: tinha um colega de universidade que fazia o mesmo, no intervalo das aulas. Uma das últimas consultas refere-se à palavra “força”: três colunas do Aurelião para esta simples palavrinha. O hábito ensinou-me a não me surpreender com tais resultados, pois são justamente os vocábulos sedimentados na história da língua a oferecer mais possibilidades de significados, que se agregam e se estratificam ao longo dos séculos. Palavras novas em geral ocupam poucas linhas, somente as necessárias para explicar a sua estreia na língua e o uso específico, quando é preciso acolher um vocábulo para dar conta de novos fenômenos da realidade. Mania estranha essa de ler dicionário. Nos meus tempos de estudante, a professora (a professora!) chamava o dicionário de “pai dos burros”. Uma pedra no caminho de retinas que nem tiveram tempo de ficar cansadas e já estão impedidas de saciar com gosto a curiosidade

FUTURO E (É) PASSADO DA LÍNGUA PORTUGUESA

E se a reforma levasse a uma simplificação radical, que eliminasse aqueles elementos acrescentados ao longo da história da língua para ajudar o leitor a pronunciá-la corretamente? Refiro-me aos acentos gráficos, cuja razão de ser explica-se fundamentalmente pela existência de um contexto cultural em que uma elite letrada assume a tarefa de guiar o falante (que conhece a sua língua!) na educação à leitura da forma escrita. Considerando (e desejando) o incremento da educação em todas as faixas sociais e a apropriação das variadas formas de expressão da língua (oral, escrita, não-verbal), por quanto tempo ainda sentiremos necessidade dos acentos gráficos? A queda do acento agudo nos ditongos abertos (p.ex. em “assembleia”) é um tímido esforço nesse sentido. O acordo poderia ter ido além nesse aspecto, embora eu compreenda as dificuldades para que isso aconteça em uma cultura extremamente apegada aos hábitos como é a nossa. Proponho uma pequena provocaçã

DIVINDADES DA LÍNGUA

É claro que Deus escreve certo (por linhas tortas). O problema é que vivemos entre seres humanos: gramáticos, escritores e pobres mortais como eu. Antes que alguém reclame de minha ousadia, explico: Guimarães Rosa é um deus da língua. Antônio Vieira idem. São imortais que prescidem de academias para os validar. Contudo, nem todo o universo de gente publicada pode ter o mesmo peso. Os que não entram naquele círculo exclusivo vivem tateando no meio da selva escura à procura de uma solução. Que não seja definitiva, mas pelo menos aceitável. Não é pouco. Para gente da minha parca estirpe, quase no último escalão, perguntas do tipo “está certo ou está errado?” causam inquietação. Por que não consigo dar uma resposta simples, monossilábica, um mero “sim”, um mero “não”? Poderia ser fácil e para corroborar poderia colocar-me à sombra de um Napoleão Mendes de Almeida, de um Celso Cunha, de um Antenor Nascentes; pôr na minha boca palavras alheias por pura conveniência, para não correr o risco d